Matheus Nachtergaele fala sobre espetáculo “Molière”, em cartaz no Cineteatro São Luiz
- Sâmya Mesquita
- 24 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de jun. de 2024
“Molière”, estrelado por Matheus Nachtergaele, chega a Fortaleza para curta temporada no Cineteatro São Luís. O espetáculo narra um inusitado conflito entre a Comédia e a Tragédia na corte de Luís XIV, tendo como principal figura um dos maiores dramaturgos de todos os tempos

Quando se fala em teatro do improviso, um dos nortes que guiam a dramaturgia são as peças criadas por Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière. E elencar a sua importância seria o mesmo que decifrar a influência da Revolução Francesa para a sociedade moderna. Molière questionou o Estado, a religião e o status quo usando de uma ironia tão sublime que confundia e fazia rir o Rei Luís XIV, à sua época.
Mais de 300 anos após a escrita de suas peças revolucionárias, a vida e a obra do parisiense ganham uma versão “à brasileira”. “Molière”, com texto de Sabina Berman e direção de Diego Fortes, traz Matheus Nachtergaele (“O Auto da Compadecida”, “Cine Holliúdy”) como o gênio do teatro, fazendo os mesmos questionamentos da época absolutista, mas ainda tão atuais no Brasil de 2023. O próprio ator que o personifica fala, ao Tapis Rouge, da importância da peça para o mundo da Arte — mais especificamente, para sua própria construção artística. “Molière é o pai da comédia, o maior comediante de todos os tempos no mundo. Influenciou todas as comédias que vieram depois dele, por todos os lugares do mundo ocidental. Então eu aprendo todos os dias. É um dos espetáculos mais importantes que eu já fiz”, diz o artista.
“Molière” é uma disputa entre a comédia — quase pastelão —, representada por Molière (Matheus Nachtergaele), e a tragédia, personificada por seu aprendiz, o poeta Jean Racine (Elcio Nogueira Seixas): eles brigam pelo financiamento do Rei Sol. Enquanto isso, o fanático arcebispo de Paris, monsenhor Péréfixe (Renato Borghi), entusiasta da guerra, tenta se aproveitar do conflito para banir do reino o teatro e seus artistas, lançando a França a uma era de conquistas e sacrifícios.
Algumas questões da época se tornam mais do que atuais, como o limite do humor, a dúvida sobre até que ponto o financiador pode interferir no fazer artístico, as diferenças entre a realidade retratada e a idealizada e, por fim, o pertinente questionamento sobre a perseguição a artistas, personificada na figura do arcebispo.
Matheus ainda destaca que “Molière” vem para ressaltar a importância do teatro na formação de nossas concepções de mundo. “O teatro é o primo dito profano das religiões caretas. Na verdade, o teatro é o último lugar que nos resta para estarmos juntos em oração de liberdade, em espanto, de libertação, em catarse para o bem e para o mal, diante daquilo que nós somos e poderemos ser. O teatro é uma cerimônia de cura através do riso e através do choro”, reflete o ator.
Embalada por músicas de Caetano Veloso, executadas ao vivo e com arranjos originais do maestro Gilson Fukushima, a peça traz 14 atores e músicos interagindo na corte carnavalesca de Luís XIV, na França. O público também acompanha as reações do Rei Luís XIV e do arcebispo Péréfixe ao espetáculo, enquanto assiste a uma encenação de Molière ou de Racine. O cenário de André Cortez evidencia o jogo de transições entre teatro e realidade, ao mesmo tempo em que dissipa os limites entre palco e plateia. Os figurinos de Karlla Girotto brincam com a ideia irreverente de uma “França Tropical”, quase uma “Tropicália Francesa”. A montagem reúne diferentes estilos teatrais e também destaca transições entre teatro e realidade, com ênfase na integração de diferentes linguagens cênicas.
Mais que uma comédia visualmente rica, “Molière” é atual não só porque é escrita por uma mulher — trazendo, em si, toda a carga de liberdade das personagens femininas —, mas porque faz o espectador refletir sobre como a Tragédia e a Comédia devem andar juntas na construção de uma sociedade mais crítica. E sobre o quanto, ainda no século XXI, somos influenciados por instituições em detrimento da arte. Sobre isso, Nachtergaele aponta suas expectativas quanto à audiência fortalezense: “Eu espero que o público entenda a nossa peça como uma comédia musical antifascista. E, junto com a gente, celebre a liberdade de expressão”.
Serviço
Espetáculo “Molière”
Quando: Quarta (25) e quinta (26) às 19h; domingo (29) às 18h
Onde: Cineteatro São Luiz. Rua Major Facundo, 500, Centro
Informações: 3252-4138 e @cineteatrosaoluiz
TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO AQUI.

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